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Brasilina
Form der Unruhe - 
Curadoria de Luísa Telles

OLHÃO 
São Paulo, Brasil
http://olhao.space/

Tapeçaria e cerâmica

lã e algodão tingidos com pau-brasil

2022

@ Júlia Tompson


 

 

Nada é inocente, nem mesmo as cores, como mostra a obra Brasilina de Flávia Vieira. O vermelho que encontramos nos elementos têxteis e cerâmicos da instalação da artista é resultante do pigmento da "brasilina" obtido da madeira da árvore pau-brasil. A exploração do pau-brasil foi a primeira atividade económica exercida pelos portugueses na América do Sul no período colonial a partir do século XVI.

O trabalho de extração do pau-brasil era feito com mão de obra indígena da tribo Tupinambás, obtida a partir da prática do escambo, ou seja, da troca de mercadorias de pequenos objetos europeus pelo trabalho pesado. Tendo sido um produto de grande valor comercial para Portugal no período colonial entre os séc. XVI e XVIII, o pigmento da brasilina era usado como matéria corante no processo de tingimento de têxteis. Esta descoberta botânica mudou os guarda-roupas da Europa. A preponderância deste pigmento no desenvolvimento da moda e na constituição de códigos sociais no contexto europeu, designadamente em Portugal, fez dele um elemento de grande relevância cultural e económica. Assim, enquanto que o pigmento da brasilina tinha um sentido ritualístico para os Tupinambás, no contexto europeu era entendido como um produto econômico e como um símbolo de status social.

 

O imperialismo, o colonialismo e a escravidão forneceram a base econômica para a riqueza na Europa, refletindo-se no surgimento de estados-nação e na riqueza de cidades comerciais como Hamburgo e São Paulo. Esta riqueza serviu também de base para o desenvolvimento das ideias europeias do Iluminismo e da Revolução Francesa. A base econômica da liberdade ocidental era a falta de liberdade, a escravidão e a servidão aos outros. A imposição das fantasias europeias através da subjugação “do outro” acontece não apenas materialmente, mas também do ponto de vista simbólico: as coisas são consideradas valiosas se forem raras e/ou caras para consumir ou produzir (como por exemplo, tecidos, metais, pinturas,…). O luxo fundamenta-se não apenas na mão-de-obra, mas também na exploração do outro e da natureza. Em última análise, o sujeito dominador desfruta da destruição daquilo que é vivo através da sua heroica fantasia de liberdade, que finge que ele –  como dono e possuidor de outros e coisas - pode assumir a morte. Plantas, roupas, iguarias, carne, móveis, casas, traduzem uma história desigual entre dominadores e subjugados.

 

Quando Vieira utiliza o pigmento para tingir lã e algodão, e posteriormente emprega este material para tecer tecidos, há um movimento de deslocamento da história colonial até os dias de hoje. Há uma vontade de reativar e discutir a narrativa colonial que compõe a relação Brasil/Portugal através do fazer manual.

 

 

Heidi Salaverría

Brasilina
Form der Unruhe - Curated by Luísa Telles
OLHÃO
São Paulo, Brazil
http://olhao.space/

Tapestry and ceramics
wool and cotton dyed with pau-brasil

2022
© Júlia Thompson




 

Nothing is innocent, not even the colors, as shown in the work Brasilina by Flávia Vieira. The red that we find in the textile and ceramic elements of the artist's installation is the result of the "brazilin" pigment obtained from the wood of the pau-brasil tree. The exploitation of pau-brasil was the first economic activity carried out by the Portuguese in South America in the colonial period from the 16th century onwards.
 

The extraction of pau-brasil was made with indigenous labor of the Tupinambás tribe, obtained from the practice of barter, that is, the exchange of goods of small European objects for heavy work. Having been a product of great commercial value for Portugal in the colonial period between the 16th and 28th centuries, the pigment of brazilin was used as a coloring matter in the textile dyeing process. This botanical discovery changed the wardrobes of Europe. The preponderance of this pigment in the development of fashion and in the constitution of social codes in the European context, namely in Portugal, made it an element of great cultural and economic relevance. Thus, while the pigment of brazilin had a ritualistic meaning for the Tupinambás, in the European context it was understood as an economic product and as a symbol of social status.
 

Imperialism, colonialism and slavery provided the economic basis for wealth in Europe, reflected in the emergence of nation-states and the wealth of commercial cities such as Hamburg and São Paulo. This wealth also served as a basis for the development of European ideas of the Enlightenment and the French Revolution. The economic basis of western freedom was manifested through the lack of freedom, slavery and servitude to others. The imposition of European fantasies through the subjugation of “the other” happens not only materially, but also from a symbolic point of view: things are considered valuable if they are rare and/or expensive to consume or produce (such as fabrics, metals, paintings,…). Luxury is based not only on labor, but also on the exploration of others and of nature. Ultimately, the dominating subject enjoys the destruction of what is alive through his heroic fantasy of freedom, which pretends that he – as owner and possessor of others and things – can assume death. Plants, clothes, delicacies, meat, furniture, houses, translate an unequal history between dominators and subjugated.
 

When Vieira uses the pigment to dye wool and cotton, and later uses this material to weave fabrics, there is a movement of displacement from colonial history to the present day. There is a desire to reactivate and discuss the colonial narrative that makes up the Brazil/Portugal relationship through manual work.

Heidi Salaverria



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